Com informações do Jornal Nacional
O Brasil passou quase 20 horas na expectativa de que o presidente da República, Jair Bolsonaro, demitisse o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. Na terça-feira (28), o país tomou conhecimento de que funcionárias da Caixa acusaram Guimarães de assédio sexual. Desde o início do governo, ele sempre foi um aliado muito próximo de Bolsonaro, mas a gravidade da situação tornava insustentável a permanência no comando de um banco estatal e quase 20 horas depois da eclosão de mais esse escândalo, ele pediu demissão. Uma concessão de Bolsonaro para que o aliado não fosse demitido.
A primeira denúncia contra o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, chegou ao Ministério Público Federal de forma anônima no começo de maio. A partir daí, o procurador do caso começou a intimar para depor testemunhas e possíveis vítimas.
O Jornal Nacional conversou com cinco funcionárias da Caixa que afirmam que presenciaram ou passaram por episódios de assédio sexual e moral por parte de Pedro Guimarães. Três aceitaram gravar entrevista sem serem identificadas por medo de represálias.
Uma funcionária disse que foi assediada durante uma viagem a trabalho.
“Em uma das viagens que eu estive presente, ele me chamou para ir para sauna e na hora, eu muito constrangida, surpreendida com a pergunta dele, falei: ‘Não, presidente, não gosto de sauna’. E aí ele me chamou para ir para piscina, aí eu falei: ‘Não, presidente, eu estou trabalhando’. E naquele momento eu fiquei tão nervosa que eu falei: ‘Gente, eu falei um não para o presidente!’”
Segundo ela, na mesma viagem, Pedro Guimarães colocou a mão no bolso de trás da calça dela.
“Estava num momento de confraternização, ele ia me entregar alguns objetos e quando ele foi tentar colocar no meu bolso, minha mão estava ocupada, quando ele tentou colocar no meu bolso da frente, que meu bolso da frente era um bolso falso, ele colocou no bolso atrás, ele enfiou tentando já apalpar minha bunda e falou com esses termos: ‘Eu vou botar na frente.’”
Uma outra funcionária disse que também foi assediada durante uma viagem de trabalho.
“As brincadeiras contínuas de beliscões mais apertados, de proximidades, pedindo beijo, abraçar forte: ‘Você não tá me abraçando tão forte, você não gosta de mim, aperta mais’. Primeiro contato físico foi um beliscão na altura assim do quadril, entre o quadril e a cintura e depois, no episódio que eu passei, foi durante uma viagem.”
Nessa mesma viagem, segundo outra funcionária, Pedro Guimarães chamou a equipe para um jantar, ofereceu vinho e começou a fazer brincadeiras que ela considerou estranhas.
“Falando das próximas escalas, que a gente faria uma outra escala, numa praia, e faria uma festa, que ele seria muito legal ll ninguém seria de ninguém e que outros altos executivos também participariam dessa escala.”
Segundo ela, depois do jantar, Pedro Guimarães chamou a equipe para tomar um banho de mar. E lá, passou a mão nela.
“Passou a mão mesmo e assim, não foi… ‘ah, será que pegou no lugar errado’, sabe? A gente sabe quando é com intenção. E senti… Eu me senti invadida, sabe? Eu me senti violentada naquele momento. Eu cheguei a comentar com um dirigente o que é que tinha acontecido e no momento ninguém… O acolhimento é muito difícil, porque a gente percebe que o assédio moral, também, é muito intenso e como havia vários casos, acho que, às vezes, pior do que o meu ninguém deu valor paro meu sentimento naquela hora, sabe”
As funcionárias afirmam que Pedro Guimarães também fazia assédio moral com integrantes da equipe e que não procuraram a corregedoria da Caixa por medo de serem perseguidas.
“A corregedoria, os nossos órgãos de controle lá da Caixa, são ligados diretamente à presidência, não deveriam, mas são. A denúncia que a gente descobriu que chegou até o corregedor sobre um assédio do presidente, não foi levada à frente, não deu andamento e nós teríamos só mais um caso. E chegou também à mão do presidente, a empregada que tinha sido acusada, que tinha denunciado.”
Elas afirmam que só depois da primeira denúncia ao Ministério Público, quando começaram a ser chamadas para depor, é que tiveram coragem de falar.
“Eu resolvi falar porque eu fui intimada pelo Ministério Público e me senti confortada a partir do momento que eles me falaram que outras mulheres haviam já feito seu depoimento, que eu não era a única. Se fosse só eu, eu não gravei, eu não filmei, né. Ele tira o celular da gente. Ele ameaça a gente o tempo todo. Ele grita. Aí vem a questão do assédio moral. Quem trabalha com ele no dia a dia, é normal. Ele grita com a gente. Ele humilha a gente. Ele ameaça tirar função, sabe. Infelizmente, quando a gente se vê vítima, então esse sentimento de querer que isso pare, que isso cesse, que isso não aconteça com outras pessoas, a Justiça mais nesse sentido de que se pare, né.”
As primeiras denúncias de assédio sexual e moral contra Pedro Guimarães vieram a público na terça-feira (28), em uma reportagem do site Metrópoles.
O Ministério Público Federal já colheu vários depoimentos, inclusive de testemunhas, e tem outros marcados para o mês de julho. O foco agora é a atuação de Pedro Guimarães, mas os depoimentos indicam que outros dirigentes da Caixa, ligados ao ex-presidente, podem ter participado do assédio ou tentado acobertar as denúncias. Isso também será apurado pelos procuradores. E agora que o caso veio a público, outras pessoas podem tomar a iniciativa de procurar o Ministério Público. Depois de reunir mais informações, os procuradores vão analisar se é preciso aprofundar as investigações ou se já há elementos para oferecer uma acusação contra o ex-presidente da Caixa.